Halloween? Não.

Eis sucintamente algumas caraterísticas do Halloween, explicitadas para pais, educadores e outros, e sobretudo para benefício das crianças. No silêncio de uma sociedade feita de mecanismos e condicionamentos utilitaristas, e piores ainda, possam a palavra e o pensamento contribuir para uma reflexão benéfica.

Morbidez

Halloween é conotado pelos elementos do mórbido, do terror, do feio, da morte, do medo, da dor, do espiritismo e do ocultismo. Todas estas coisas suscitam, numa psique que se encontre em estado suficientemente saudável, impressões e reações tristes, más, negativas. Além disso, para quem cultive uma vida espiritual (em senso lato, também de “vida filosófica” ou “meditativa”), todas estas coisas são evidentemente contrárias à espiritualidade, à saúde da alma, à Paz interior.

Alheamento

O Halloween é uma manifestação de culturas em boa parte alheias (ou marginais) à formação histórica das culturas euro-mediterrânicas, ibéricas e portuguesa, tendo raízes num longínquo norte e, mais recentemente, nos Estados Unidos. Logo, a causa sociológica da sua importação em Portugal é sobretudo a fortíssima influência cultural, económica e comercial que os Estados Unidos exercem sobre a Europa e que constitui uma parte relevante da sua política internacional, que neste caso pode resultar quase numa forma de colonização cultural. Mesmo quando se encontrassem fenómenos análogos ao Halloween nas tradições ancestrais ibero-mediterrânicas, o facto de relembrar-se deles apenas por causa do impulso da moda do Halloween é um claro sinal da artificialidade e da falta de oportunidade de tal operação.

Comercialismo

Por esta razão, o Halloween, de forma diferente de outras ocasiões de festa (como, por exemplo, o Carnaval) é uma “festa” puramente comercial, consumista, que não tem sequer outra causa de existir em Portugal salvo a passividade dos europeus perante o domínio económico e político de outras potências. Qual mensagem se dará a crianças inocentes, ao propor-lhes (diríamos melhor: impor-lhes) algo que não tem sequer um significado, salvo o de “fazer negócios”? Evidentemente uma mensagem materialista, consumista e redutora daquela profunda busca de sentido – sim, do sentido da Vida – que uma criança naturalmente traz em si (e traz a nós).

Falsa educação

Os ideólogos, comerciantes e aqueles educadores que promovem o Halloween, quando se querem defender das críticas ou querem justificar o próprio Halloween, jogam então uma carta bastante perigosa, comunicando aos pais que “o Halloween serve para exorcizar os medos!”. Quais medos? O meu filho nunca teve medo de fantasmas antes de… os educadores da sua creche lhe terem falado em fantasmas durante o Halloween! Tinha ele 3 anos de idade. A partir daquela noite, o pai e a mãe começaram a ter de enfrentar, antes de deitar o filho, um novo medo deste, que lhe foi criado, e não exorcizado, pelo Halloween!

Desadequação

Sejamos honestos: “exorcizar” medos é algo que custa anos de percurso psicológico e espiritual a um adulto: como pode uma criança fazer operações psicológicas tão complexas apenas vestindo-se de morcego ou de bruxa?! Estamos, de facto, a falar de práticas e mensagens inadequadas à idade, à personalidade e à própria educação de uma criança. Os medos existem e têm uma função e maneiras para serem dominados. Na verdade não têm de ser “exorcizados”, antes têm de ser compreendidos, por vezes utilizados (são defensas que em certa medida nos protegem), e finalmente transcendidos – para que não nos dominem – numa consciência maior e mais lúcida, e não sublimados numa encenação horrorífica! E… “exorcismo” não é uma ideia que se deva associar à educação de uma criança!

Hipocrisia

Para além de daninhos do ponto de vista educativo, os elementos referidos nesta sucinta nota configuram já por si e sem necessidade de muitos aprofundamentos (que seriam, contudo, oportunos) a “festa” do Halloween como um contexto e pretexto conotado pela hipocrisia: a sociedade vende (literalmente) o pior dos imaginários demoníacos, mascarando-os (literalmente) de boa educação, psicologia prêt-a-portér e divertimento. Sim, o divertimento de uma sociedade que muito se quer descrever enquanto sociedade feliz, quando na verdade mergulha numa depressão coletiva, que evidentemente quer penetrar no coração dos nossos filhos desde a infância.

Reflita-se então sobre o que é que o Halloween é e sobre os seus efeitos.

Precisamos do Halloween? É de algum benefício?

A resposta é simples: não. Sabem-no muito bem todos, inclusivamente os educadores das escolas, creches e jardins-de-infância. A eles vai a minha compaixão, porque não é fácil contrariar o status quo e na nossa sociedade há cada vez mais medo (este, sim, horrorífico) de o fazer, principalmente nos locais de trabalho.

A eles e aos pais e a todos vai também, com estas poucas palavras, o impulso para se desmarcarem de hábitos que são, por um lado, impostos por motivos que não são nobres, e por outro, vazios e até daninhos no que respeita à cultura, à educação e à consciência, a muitos níveis.

Triunfe a Luz, e não a treva, dentro e fora de nós.

Lisboa, 31 de outubro de 2017

Fabrizio Boscaglia

(pai)