A editora Tinta-da-China acaba de publicar o prestigioso livro-coletânea Nietzsche e Pessoa: Ensaios, que conta com a participação de ilustres pensadores e estudiosos pessoanos, quais Eduardo Lourenço, Jerónimo Pizarro e Richard Zenith. A edição é de Bartholomew Ryan, Marta Faustino e Antonio Cardiello.
«Nietzsche, Pessoa e o Islão: Notas sobre a receção de Der Antichrist por Fernando Pessoa» é o título do meu texto publicado neste livro. Eis um breve excerto:
Em 1916, foi publicada em Lisboa uma tradução para português de Der Antichrist de Nietzsche (1895), intitulada O Anti-Christo: Estudo critico sobre a crença christã, pela editora Guimarães. Trata-se provavelmente da primeira edição portuguesa desta obra, em que a forte crítica ao Cristianismo produzida por Nietzsche incorpora, entre outros elementos, reflexões sobre o Islão. A hipótese que aqui postulamos, na qual Pessoa teria lido esta edição a partir daquele mesmo ano de 1916, não é algo que deva surpreender, dado que naquele período o escritor português incorporava um esboço de análise da Civilização Islâmica dentro de uma abrangente (embora fragmentária) teoria filosófica chamada Neopaganismo, em grande parte atribuída ao autor fictício António Mora. A este respeito, note-se que o Neopaganismo de Pessoa/Mora fundava-se numa reafirmação da mentalidade pagã e numa crítica ao Cristianismo, tendo vários pontos comparáveis com o pensamento nietzschiano, como já foi referido por alguns estudiosos. Por estas razões, no presente ensaio citamos a referida edição portuguesa de Der Antichrist e sugerimos a hipótese de que esta tenha feito parte da bagagem bibliográfica que acompanhou a escrita de Pessoa sobre o Islão a partir de 1916 e até pelo menos 1918. Tentaremos, assim, identificar novos elementos para o estudo da receção de Nietzsche em Pessoa.
O livro vai ser lançado no dia 12 de fevereiro na livraria Fabula Urbis, em Lisboa.