«[…] A nossa intenção foi a de oferecer aos estudiosos e leitores a oportunidade de considerar uma vasta e dispersa área da obra de Fernando Pessoa. Esta área corresponde ao âmbito temático que no título do presente número [da revista Pessoa Plural] veio a ser denominado como “Oriente/Orient”. Com efeito, várias das geografias que o leitor encontrará neste número especial foram, em dados momentos da história cultural do chamado “Ocidente”, associadas à ideia de “Oriente”: Índia, China, Japão, Pérsia, “Mundo Árabe”. Pertencem, por essa razão, a uma “geografia imaginária” (SAID, 1978) que não deve ser acolhida acriticamente.
A denominação “Oriente” é, de facto, problemática. O que é o Oriente? Uma entidade geográfica, cultural, filosófica, religiosa, antropológica ou… imaginária? As imaginações acerca de um Oriente vago, distante e misterioso têm, sem dúvida, sido muitas. Nesse aspecto, ele tem sido identificado como um outro face a um próprio. Aliás, o oriental tem sido, ao longo dos séculos da imaginação europeia (e “ocidental”), sobretudo isto: o Outro; o Outro de um Ocidente dramático e dramatúrgico, perpetuamente em busca de autor.»